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Urutu, de 1922 a 2022 com a mais pura essência do Modernismo

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 03/04/2022 às 11:49:27

Era circo? Performance? Dança? Poesia? Era tudo, para a sorte dos que estavam presentes!

O Centro Cultural do Banco do Brasil presenteou o público com "Urutu", peça montada na área externa, dando a todos a oportunidade de assistir um dos melhores espetáculos do momento. É lindo ver as pessoas em pé, ocupando as escadarias do Museus França Brasil, as janelas do próprio CCBB, todos boquiabertos com as mais lindas expressões artísticas de jovens circenses. É poesia para dar e vender!

O circo brasileiro é um dos maiores exportadores de artistas circenses do mundo, basta assistir Urutu para entender o motivo!

Eles são felizes e são artistas de alma, oriundos das dificuldades, e parece que isso cria uma força nos corpos, nos olhos e na alma deles, o que impossibilita não ovacionar cada um desses artistas presentes.

São eles: Alex D, Aline Fortunato, Andru, Caroline Meurer, Digão, Eduardo Estrada, Elias Oliveira, Ezequiel Freitas, Felipe Cerqueira, Francine Rosa, Gui Oliveira, Ingrid Bogotá, Isabella Steffen, Jajá, Jessica Oscar, Juan Pizarro, JC Barbosa, Juliana Fernandes, Leonora Cardani, Mística, Maga Martinez, Matheus Gabriel, Murillo Atalaia, Nat Az, Paolla Ollitsak, Patrick, Pedro Freitas, Pedro Vinicius, Rafaela Duarte, Rick Almodi, Sinead Daniela Rojas, Thaís Ventorini, Victor Versuth e Vini Reis. Ele oriundam de todo Brasil e alguns países da América Latina. Há de se entender que falamos de pedras preciosas, que dão ao espetáculo beleza, cor e brilho. São incríveis, os sorrisos e olhares são tão perfeitos que nos conduzem ao espetáculo que manda o internacional Cirque du Soleil para o esquecimento!

Ah! Temos excelentes artistas e esses são preciosos, quando ensaiados e, principalmente, fomentados! Sem contar que são lindos nossos patrícios, eles carregam nos corpos amor, porque somente com muito amor se sobrevive de arte nesse Brasil!

Além disso, são entregues ao ofício, uma entrega de alma, algo tão inimaginável, tão imaculado.

"Vou fazer circo até onde eu puder, porque eu amo o que faço, desde os meus nove anos que sou circense". Palavras de Ingrid Chabi.

"Me dê um abraço". Palavras do artista de Pernambuco Nat, quando me encontrou após o término do espetáculo.

A emoção corre em qualquer brasileiro entregue à arte, pois é exatamente ali, na rua, na parte externa do CCBB-RJ, que entendemos as palavras do grande diretor de teatro Gustavo Paso quando diz: "somos madeiras de lei que cupim não rói". É possível se certificar que a arte está em boas mãos e ela não vai parar! Esses jovens são como tochas que incendeiam ruas, vielas, palcos, picadeiros, o que tiver pela frente. Eles as encherão de vida e da mais pura arte! Um "viva" para cada um deles!

Há de se tentar entender a grandeza desses jovens em seguir nessa direção, porque está cravado no espírito de cada um deles o ofício, que não cabe somente dentro de uma lona. A sensação é de que os malabares e movimentos corporais são tão involuntários quanto o respirar!

Em algumas apresentações, mensagens subliminares eram deixadas, como duas atrizes que, através da acrobacia, dependiam uma da outra para executar movimentos cativantes, como a dizer: "nós mulheres somos fortes juntas"! Como a força é capaz de coroar seres e, mesmo assim, não perdemos a sutileza, a delicadeza... assim foram elas em acrobacias nos arcos pelo ar.

As três marias no céu, três artistas também em arcos, faziam movimentos no ar, no alto, com músculos que salvam dos seus corpos. Mas isso não deixa a marca da beleza feminina de cada uma delas!

Eram tecidos, eram malabares, era tanta coisa, tanto contorcionismo, tanto para falar, são duas horas de apresentação, mas que voam diante dos nossos olhos!

Tudo tão brasileiro... negros, loiros, indígenas, tudo tão miscigenado, era o Brasil de verdade ali. Porque não somos somente indígenas (fomos e somos dizimados), não somos africanos (não adianta chamar da Pequena Africa, porque não somos), não somos europeus, essa terra é o Brasil, a mistura de tudo e todos! E é nisso que está a graça, nossa diferença, nossa beleza acolherdora!

Os figurinos de Isaac Neves são viscerais. O que mais chama a atenção são as indumentárias dos acrobatas, que me fizeram mergulhar nos quadros do pintor carioca e modernista Di Cavalcanti. Com direito ao Clóvis, ao eternizado bate-bola, não de pode esquecer o aparente sentimento pelo carnaval desse pintor, que usava do cubismo e surrealismo para identificá-lo nas telas!

O figurinista reflete a Semana de Arte Moderna com legitimidade. Nota-se que Isaac e Renato fizeram um trabalho lindo juntos, um grito social, um mergulho em 1922, lá em São Paulo, no Teatro Municipal. O trabalho foi belo como merecido nesse centenário, inesquecível para quem estuda e entende do movimento artístico mais importante desse país.

A representatividade do quadro de Tarsila do Amaral com o vestido vermelho está extremamente emblemático. Como não falar em um dos maiores símbolos do Modernismo? Os operários de Tarsila ali, na nossa frente, saíram das telas e vieram ao nosso encontro.

O caipira, que lindo figurino, nos remete tanto à história dos nordestinos que construíram as grandes metrópoles e foram defendidos torridamente pelos modernistas!

A beleza dos indígenas em um movimento corporal alucinante, com tecidos que carregam brasilidade em suas cores. Ideias do querido Isaac, que é oriundo do carnaval carioca.

Isaac soube ir mais além: mostrou as carrancas das forças dos elementos que, muitas vezes, não enxergamos, seres presentes em nossa brasilidade, vultos. Certamente Isaac também se incluiria no texto de Monteiro Lobato na sua crítica "Paranóia ou Mistificação", quando fala dos artistas que vão na contramão do que ele achava arte. "A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento".

Esse foi um dos estopins para nossos modernistas, que fique claro.

E quem cem anos depois...

Ah Monteiro! Errastes para nossa sorte, para sorte desse Brasil de cores!

A crítica que Lobato fez a Anita Malfatti foi cruel, mas a musa de 1922, como foi retratada por Isaac, cem anos depois, veio representada através das suas palhetas de cores! Grandiosa Anita!

Som e cenografia ambientam com magnitude cada apresentação. Ttudo certo, tudo perfeito, tudo minuciosamente, engenhosamente contruído!

Impossível conter as lágrimas quando entra em nossos ouvidos a canção do amado Heitor Villa Lobos, o "Trenzinho Caipira". A pele arrepia e somos embalados ao sonho, ao encontro com os artistas, que nos deram identidade artística. É de fazer qualquer amante das artes vibrar, se largar no mais profundo Brasil multicultural. Sem palavras para falar mais sobre esse presente musical dessa equipe de som. Foram 22 na veia, acertaram o coração de todos na plateia, o mais profundo regozijo da alma daquele que na arte tenta entender o próximo, a vida...

A dupla Carlos Chapéu e Dadá Maia estão lá recebendo a todos com as melhores das expressões, com dedicação e um olhar de cuidado que chega tanger aos que estão por perto.

A dramaturgia e direção artística de Renato Rocha, que anda em alguns teatros do Rio de Janeiro, esbanjando talento. Claro! Ele foi pioneiro em apresentar esse manifesto aqui no Rio de Janeiro através do circo, incrivelmente belo.

O professor Ernesto estava presente e deixou claro que, através do edital da Funarte, os alunos são escolhidos, e chegam à escola de circo, treinando de oito da amanhã até as quatro da tarde. Ernesto pareceu ser bem querido entre os alunos que o saudaram com amor e brilho nos olhos. Notou-se paixão e gratidão por ele. Ernesto é cubano, vive no Brasil há vinte e cinco anos, deixa claro que atua com mais professores, e afirma que no Brasil temos artistas idimensionáveis, que não precisamos de nada, que somos criativos e bons no que fazemos! Valeu Ernesto, nosso agradecimento!

Vale lembrar que, para a turma que termina o curso e está se apresentando, esse é o baile de formatura. Se não for, me convidem para o tal baile, deve ser uma coisa de louco ver esses jovens bailando longe dos picadeiros, na liberdade de seus corpos que parecem de mola!

Eles dão a sensação que podem ocupar qualquer espaço, que podem revezar, parece que todo mundo sabe tudo, isso que se chama equipe, estão conectados uns aos outros, esse deve ser o segredo, só pode!

"Urutu" é um réptil venenoso, perigoso, tanto quanto os 150 artistas envolvidos nessa obra. São capazes de adormecer e causar delírios, tal como a tela "O Ovo", que retrata o novo, e o manifesto de Oswald de Andrade, valorizando nossa brasilidade!

Sinopse

Para comemorar as efemérides do centenário da Semana de Arte Moderna e o bicentenário da Independência do Brasil, o Banco do Brasil, com apoio institucional da FUNARTE, se une a Escola Nacional de Circo, ao diretor Renato Rocha e a Ciranda de 3 Trupe Produções, criando uma vitrine para o circo brasileiro nas relações internacionais, colocando assim, o Brasil no mapa do cenário circense mundial. O projeto é patrocinado pelo Banco do Brasil.

FICHA TÉCNICA

Equipe Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha:

Professores responsáveis técnicos e co-criadores dos números circenses: Alex Machado, Alexander Khudyakova, Alexandre Souto, Alexis Reyes, Antônio Rigoberto, Bruma Saboya, Bruno Carneiro, Edson Silva, Ernesto Trujillo, Luciana Belchior, Marisa Khudyakova, Paulo Emanuel, Rodolfo Rangel, Rodrigo Garcez, Thalita Nakadomari

Professores colaboradores: Felipe Reznik (Música), Nayanne Cavalcante (Dança), Raquel Castro (Dança), Gustavo Damasceno (Teatro).

Preparadores Físicos: Felipe Bedran e João Solano

Fisioterapeuta: Rafael Gonçalves

Professor de educação física: João Solano

Direção ENC: Renata Januzzi

Coordenação Pedagógica: Lilian Lopes

Equipe Administrativa: Alexandre França e Oliveira Silva, Anderson da Costa Pereira, Gladys Coimbra, Paulo Andre Mota de Azevedo, Paulo Roberto Pinto Guimarães

Equipe de Limpeza: Carlos Dias Pereira, Claudia Regina dos Santos Galvão, Fabiano dos Santos Severino, Janaina Gallo da Silva, Joelson Bonifácio Malaquias, Rogerio Luiz de Moura, Sidnea Pinto de Queiroz, Viviane Silva de Oliveira

Equipe de Portaria: Erinelton Mendes dos Santos, João Paulo dos Santos, Marcondes José da Silva Santos, Marcus Vinicius de Carvalho

Equipe de Brigadistas: Charlene Queiroz, Cintia Maria, Darcler Batista, Rafael Nunes, Sergio da Silva, Welton Luiz

Equipe de vigilantes: Luiz Claudio da Silva, Márcio José Ferreira, Wagner Barreto de Araújo, William Henrique da Silva

SOBRE O CCBB RJ

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro funciona na 2ª, 4ª a sábado de 9h às 21h, no domingo de 9h às 20h e fecha na terça-feira. A entrada do público e? permitida apenas com apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19 e uso de máscaras. Não é necessária a retirada de ingresso para acessar o prédio, os ingressos para os eventos podem ser retirados previamente no site eventim.com.br ou presencialmente na bilheteria do CCBB.

SERVIÇO

Centro Cultural Banco do Brasil

Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro.

Informações: 21 3808-2020

Estreia Nacional/Temporada: de 23 de março até 3 de abril de 2022.

Apresentações: Quarta a domingo, às 19h.

Local: Estacionamento do CCBB.

Capacidade de público: 50 lugares sentados dentro do picadeiro e 100 lugares em pé em torno do picadeiro.

Retirada das senhas: 1 hora antes do início das apresentações, na bilheteria do CCBB.

Ingressos grátis

Duração: 120 minutos, em 2 atos. Intervalo de 15 minutos entre os atos.

Classificação livre

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